segunda-feira, 14 de março de 2011

Incivilidade

Vendo um documentário sobre Rose-Marie Muraro, em que ela expressa seu sofrimento diante da barbárie do mundo globalizado, me identifiquei  com sua profunda dor e também sofri, pois reconheço as incivilidades do dia a dia. Não confundir com desobediência civil.
Incivilidade é desrespeitar normas básicas de convivência coletiva; fazer ao outro o que não quero ou desejo, egoisticamente, para mim próprio em casa, na rua, no trânsito, nos hospitais, nas escolas, etc.
Não vou me referir aqui aos processos econômicos-sociais presentes ou mesmo determinantes dessas relações, e negação histórica da possibilidade de desenvolvimento humano da nossa sociedade. Quero me referir de forma rasteira à incivilidades rasteiras: aquelas que vão se acumulando e ao longo dos anos nos levam à Síndrome do Emputecimento Progressivo - SEP, diante da qual também temos pouquíssima chance  de enfrentamento sem sermos considerados chatos, velhos, e outros adjetivos. 
Exemplos, na minha opinião, de incivilidades:

  • o trânsito da cidade, cada vez mais devagar e com os motoristas tentando passar na frente de qualquer jeito. Aqui não há gentileza e o que importa é vender mais e maravilhosos carros, seus acessórios e combustíveis. Transporte coletivo é para gente pobre, sem posses. Não importa a degradação do meio ambiente e das pessoas;
  • cocô de cachorro nas calçadas: além dos buracos e águas escorrentes, temos também que driblá-los. Me vingo imaginando obrigar os donos dos mesmos a pegá-los e...
  • aparelho de som de última geração do vizinho, ligado no mais alto volume em música de baixa qualidade (nem que fosse boa!), no seu pé de ouvido o dia inteiro. Som ambiente. Nesses casos, fico desejando um apagão ou uma explosão das caixas de som;
  • carros de propaganda pelas ruas chamando os fregueses para aquelas ofertas imperdíveis ou fazendo propaganda eleitoral. Tem também uns caras que colocam caixas de som enormes na mala dos carros e saem poraí nos obrigando a ouvir suas músicas horrorosas. Por que não compram um fone de ouvido enorme e explodem seus próprios tímpanos?
  • pessoas que lançam nas ruas embalagens de alimentos ou latas de refrigerantes e outras coisas pelas janelas de ônibus e carros;
  • motoristas de ônibus que dirigem como se fosse passar por cima de todos os carros menores. Arrancam violentamente e freiam como se estivessem carregando bois e vacas;
  • grandes festas de rua em locais onde não cabem tantas pessoas, a exemplo do Sítio da Trindade no São João; Olinda no carnaval ou o Marco Zero, no Recife. Quando tudo termina, além dos mortos e feridos, resta-nos várias toneladas de lixo que levam dias para serem retiradas, sem falar dos detritos que permanecem  para sempreno leito dos rios;
  • Ser obrigada a pagar ao flanelinha para estacionar na rua, depois de ter pago vários impostos para trafegar por elas (coitado, sei que se trnasformou no ganha-pão, mas...);
  • Ser obrigada a deixar os rapazes "limparem" o parabrisa do carro com medo de ser agredida (idem ao ganha-pão), mas;
  • lucro, mercado, economia, bolsa de valores, over, dólar, tigres asiáticos, vender, comprar, comprar, vender tudo, qualquer coisa, tudo tem seu preço, coisas, amores, pessoas;
  • .........
  • .........
  • .........
Tem remédio para SEP? vacina? alguma coisa? 
Dizia o Profeta Gentileza que gentileza gera gentileza e que "Só com Gentileza superamos a violência que se deriva do capeta-capital”. 
Diz Leonardo Boff que o espírito de gentileza nunca ganhou centralidade, por isso somos tão vazios e violentos. Hoje ele é urgente. Ou deciframos uma maneira de praticar a gentileza ou nos entredevoraremos. Concordo com ele.






Nenhum comentário:

Postar um comentário

clique aqui para comentar