segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Cidadania deambulatória


Exercitar a cidadania deambulatória - conceito de Francisco Cunha para quem gosta de andar pelas ruas da cidade - tem sido algo mais que difícil. Como no meu trabalho (Hospital da Restauração) encurtaram o tamanho do estacionamento para criação de uma pequena praça de alimentação, tenho ido dar meus plantões de táxi, de carona ou de ônibus. Aproveito para voltar a pé, andando cerca de 4 km até minha casa, o que faço sem grandes esforços.
O problema é a caminhada pelas ruas e calçadas da cidade, que começo a redescobrir por outro ângulo que não a janela do carro. Descubro que, infelizmente, a cidade se adaptou aos carros e não aos pedestres. Tudo "funciona" em função dos veículos: o tamanho das ruas, a velocidade permitida, o tempo dos sinais. Quem vai a pé, então, tem que se adaptar a isto, e não o contrário. Respeita-se o carro, e não o pedestre. Os ciclistas, então, são como muriçocas loucas, desviando-se assustados a cada momento dos carros e dos ônibus, de quem escapam não sei como. As motos são algo insuportável: aparecem de todos os lados, recortam por entre os carros e usam insistentemente aquela buzininha aguda que, vamos e viemos, é de enlouquecer.
A caminhada fica prejudicada pelo fato de, além de ser feita entre todos esses veículos desvairados, também é cheia de obstáculos como: buracos de diversos tamanhos, com ou sem água suja; raízes das centenárias árvores que não são contidas e acabam ocupando toda a calçada, levando o deambulante a ter que circulá-la pela via dos carros ou se espremendo nas paredes (viva as árvores, é só preciso um cuidadozinho); a solidão dos deambulantes, pois é pouca a quantidade de gente que ainda se arrisca a andar longos trechos, por razões que, creio, tem a ver com a vida sedentária e o medo da violência. Por fim e para não me alongar, a falta de iluminação pública (porque alguém pode chamar de iluminação essas luzes amarelas que mais parecem candieros do início do século XIX?).
A cidade acaba sendo opressora para o transeunte, que se resigna e acaba utilizando algum tipo de veículo que não suas próprias pernas.
Hoje, ao voltar para casa andando, fiquei pensando por quanto tempo ainda isso durará ou quando vou poder utilizar uma bicicleta. Imaginei, baseada no nosso baixo nível de participação nas decisões de como deveria ser a cidade em que vivemos, que uma mudança satisfatória não se dará antes de mais outros 500 anos. Infelizmente, não vou durar tanto. E como não posso esperar, resistirei! Vou continuar caminhando e reclamando até conseguir um calçadão.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Tomar um deforete


Com o retorno de Clarice à terrinha, perdi a principal temática motivadora do blog Viagem com ela. Mas como gostei muito da experiência de escrever as bobagens que me vinham à cabeça e que acabavam me dando estímulo para a pesquisa de temas diversos, resolvi continuar escrevendo.
Pensando sobre o que especificamente escrever, decidi que não queria um foco específico em algum tema, como era o caso do Viagem e do blog institucional que também começo a desenvolver.
Como gosto imensamente de ler e escrever, penso em falar sobre as diversidades, curiosidades, bobagens e outros afins que garimpo nessas leituras e convívios e que são um "deforete" na vida.
Segundo o Dicionário Informal, deforete significa descansar.
No Dicionário de Termos Nordestinos, de Gilberto Albuquerque, significa: escapada, mudar de vida. Enfim, tomar um deforete é arejar a mente, desestressar, fazer coisas legais, encontrar outras convergências.
Assim, a partir de agora a viagem não é mais com alguém especificamente, mas com muitas outras possibilidades.