Dando seguimento aos ressuscitados, meu segundo candidato à volta ao convívio é o escritor, poeta e dramaturgo irlandês Oscar Wilde.
Wilde sempre me impressionou pelas suas frases de efeito críticas, inteligentes e desaforadas, tipo:
"A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre".
"O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação".
"Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal".
Li O Retrato de Dorian Gray, seu único romance, há muito tempo atrás, e fiquei impressionada com a chatice da Inglaterra vitoriana, com seus lordes e hipocrisias. Não à toa se diz que "Wilde era gay e escreveu O Retrato de Dorian Gray, e foi preso porque era gay e porque escreveu O Retrato de Dorian Gray, e escreveu O Retrato de Dorian Gray porque era gay".
Mas descobri depois que Wilde se definia como irlandês, republicano e socialista. E aí reside uma ligação entre este ressuscitado e o anterior, além da contemporaneidade: quando Wilde nasceu, Marx já tinha cerca de 36 anos e já havia disseminado muito do seu pensamento na Europa (e eram muitos os pensamentos que rolavam por lá).
Todavia, o dito socialismo de Wilde se assentava em dois pilares: o individualismo e o esteticismo. Acreditava num direito fundamental a "estar liberto da miséria e da exploração capitalista para buscar a plena realização individual (idéia aliás nada estranha a Marx), que passa inexoravelmente pelo desfrutar da estética. Assim, um mundo privado do belo e da capacidade de o produzir e apreciar é um mundo oprimido, e por isso não faz sentido dissociar ética de estética, a não ser numa lógica capitalista que condena o ser humano a mera força laboral a serviço de outra causa que não a felicidade individual (e logo comum, ou vice versa)".
Dessa forma, Wilde poderia voltar e retomar suas atitudes extravagantes, fundando um novo "dandismo" para impor o belo como antídoto para as feiúras de nossa sociedade. Se, em sua primeira vida deitou abaixo a hipocrisia e podridão das classes poderosas na Inglaterra vitoriana, imagine do que seria capaz se dispusesse de um programa de variedades em horário nobre da Globo!
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